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Conteúdos Cientificos

Pressões centrais e Risco cardiovascular

Celso Amodeo

Cardiologista e Nefrologista, Presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia

As curvas de pressão arterial apresentam diferenças na dependência dos pontos da árvore arterial que elas são aferidas. Existem diferenças entre os pontos periféricos e centrais, de tal forma que a pressão arterial sistólica é muito mais alta na artéria braquial do que nas artérias centrais, enquanto a pressão diastólica e a pressão média diferem apenas discretamente. Uma elevação na pressão central, sobretudo na pressão sistólica, aumenta a pós-carga do ventrículo esquerdo, ocasionando importante aumento do trabalho cardíaco, estímulo este que leva ao processo de hipertrofia do ventrículo esquerdo e suas eventuais consequências, como insuficiência cardíaca e isquemia miocárdica.
Estudos clínicos e epidemiológicos têm demonstrado a maior importância da pressão arterial sistólica sobre a pressão arterial diastólica e média na avaliação do risco cardiovascular, principalmente na população adulta mais idosa.1–4
Entretanto, a literatura ainda é controversa, principalmente no que se refere à pressão de pulso e pressão arterial sistólica nas artérias centrais e periféricas, mesmo quando as pressões diastólicas e sistólicas parecem ser iguais.5,6,7
Tais diferenças podem incorrer em erros interpretativos quando se analisa o consumo de oxigênio pelo miocárdio e a hipertrofia ventricular esquerda, bem como a análise dos efeitos vasodilatadores de diferentes fármacos. 8,9,10 
Os primeiros estudos hemodinâmicos realizados por cateterismo em animais demonstraram que as pressões na aorta ascendentes são bem semelhantes às pressões dentro do ventrículo esquerdo mas que ambas são diferentes daquelas medidas pressóricas obtidas na artéria braquial e radial.20,21–23  Tais diferenças foram atribuídas às ondas de reflexão e elasticidade dos vasos, principalmente em adultos jovens durante taquicardia e manobras fisiológicas como a manobra de Valsalva.21,22 Outros estudos mostraram diferenças entre a aorta ascendente e as artérias dos membros superiores em indivíduos idosos especialmente quando apresentavam taquicardia e/ou hipotensão ou quando estavam sob terapia com vasodilatadores. 6,11,24–26
Mais recentemente, Roman e cols.27, demonstraram a maior correlação de risco cardiovascular com a pressão na aorta ascendente em comparação com a pressão obtida na artéria braquial.
A obtenção da pressão artertial central pode ser realizada por métodos não invasivos através de novas técnicas que têm proporcionado grande entusiasmo na avaliação da pressão central na prática clínica. Dois principais métodos estão disponíveis no momento: tonometria de aplanação que estima a pressão central por registro indireto não invasivo (registro da pressão sobre a parede arterial por um transdutor); aplicação de funções de transferência generalizadas para estimativa indireta das ondas de pressão aórtica central, obtidas por medidas feitas por tonometria na artéria braquial. Entretanto, os dois tipos de metodologia apresentam erros relacionados à calibração da onda de pressão central obtida pela medida oscilométrica da artéria periférica, o que demonstra fatores limitantes, mas não restritivos, à aplicação clínica em diferentes populações. A despeito dessas limitações, alguns estudos recentes em populações específicas têm sugerido que a avaliação da pressão central pode trazer novas perspectivas e dados adicionais para a estratificação cardiovascular em hipertensão arterial. 
O estudo clínico CAFE comparou os efeitos do tratamento com diferentes anti-hipertensivos em associação sobre a pressão arterial periférica e central (gráficos 1 e 2). Na obtenção da pressão central foi utilizada a metodologia de transferência de função e tonometria de aplanação da artéria radial e evidenciou-se que reduzir a PA central traz maior diminuição de risco cardiovascular, além da verificada com as medidas de PA periférica (artéria braquial). Também, o estudo mostrou que diferentes fármacos anti-hipertensivos podem ter respostas diferentes sobre a pressão arterial central. Apesar desses dados, o valor prognóstico das medidas de pressão central aórtica em grandes estudos clínicos permanece desconhecido. Ainda são necessárias adaptações na metodologia para a medida mais precisa da PA central, entretanto, quando isso for possível, dados de grandes estudos epidemiológicos e ensaios clínicos responderão se a otimização da avaliação e da redução do risco cardiovascular, que se relaciona ao aumento da PA, será factível por análise da PA local, onde a lesão de órgãos-alvo ou os eventos ocorrem, especialmente em nível de artérias centrais (aorta e carótidas).

Sobre o autor

Flavia Torretta


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